quarta-feira, abril 22, 2015

Saramago, A viagem do elefante.



"Contam-se muitas coisas e nem todas são certas, mas o ser humano foi desta maneira feito, tão capaz de crer que o pelo do elefante, depois de um processo de maceração, faz crescer o cabelo, como de imaginar que leva dentro de si uma luz única que o conduzirá pelos caminhos da vida, incluindo os desfiladeiros. De uma maneira ou outra, dizia o sábio eremita dos alpes, sempre teremos de morrer".

"Como já devíamos  saber, a representação mais exata, mais precisa da alma humana é o labirinto. Com ela tudo é possível".

"Porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginávamos silêncios, e súbitos regressos quando pensávamos que não voltaríamos a encontrar-nos".

quinta-feira, abril 16, 2015

Adagio Sostenuto

Basta. Os sentimentos já estão empoleirados no peito. E não consigo segurar essa palavra com arritmia entre os dedos. Faz-tanto-tempo. E essas memórias ainda me afogam. Já não sei mais como não resguardar ansiedades em densos suspiros. Perdão. Se dei para marcar no corpo os arrependimentos? Nem em dias ímpares. Quando a solidão estala a pele. Penso: fio-da-vida: fiar-tecer-cortar: ad infinitum: roca-do-destino: transitoriedade. Paciência. Monge Tibetano. Mandalas de Areia. E a vibração da tua voz propagando inconstâncias na minha pele. Roda-da-fortuna. Maya. Samsara. Os teus olhos. Na quadratura do círculo e tudo que vejo é o que desejo. Alinhavei os teus gestos como se pudesse assim ler uma pessoa inteira. Estou com as vistas fastiadas. E agora já enovelei minhas preces. Todo movimento: adagio sostenuto

*
Cecília Braga

Negrita: La tua canzone.

O problema.

"O problema não é inventar. É ser inventado, hora após hora, e nunca ficar pronta nossa edição convincente" (Drummond).

Quanto dura um gesto?




“Minha primeira lembrança remonta a dois anos de idade. É verdade, juro. É uma visão: o chão de cimento e o armário que ficava atrás da cadeira de meu pai, sentado à mesa. Ele alcançava o armário com a mão, virando-se para trás. Essa lembrança não se acaba. Quanto dura um gesto?  Meu pai morreu. E o chão de cimento se destruiu” (Lispector, apud GOTLIB, 1995: 77).