A Espera tem o costume de sentar na beira do dia e fazer movimentos irriquietos com suas pernas longas. Ela vai arando, desacomodando as margens do tempo, até surgir na epiderme do dia um descampado. Nú. Feito as pontas dos dedos descascados em ansiedade. Esperar tem mãos ásperas e lixivia os dias. Desertifica. E povoa. Um clamor profético rouco tem som de aragem: Moséis gagueja repetidamente o nome de Deus enquanto uma folha descobre o outono. E tomba. Ela sabe, por isso, semeia. Mãos suadas cansam a semente até que o imperativo categórico nasça. Deus espalma sua destra na fronte do dia e faz dos dedos arado. Ela contempla. Deus gosta de amanhar pensamentos a ponto de húmus. Esperança é quase esterco. E ela tem um campo de gerânios, ainda em grãos, entre os dedos. Pupilas em lua-cheia e uma saudade densa... Feito teto da Capela Sistina... Feito o cinza anoitecendo o azul de um horizonte alaranjado...Feito a noite que cede aos apelos das estrelas. Feito Van Gogh colorindo Girassóis. As estrelas erguem a noite ao ponto de capela. Milhões de desejos acessos.Velas. Sopras?
Cecília Braga
3 comentários:
Eu entro aqui sempre, já li esse blog de cabo a rabo, mas nunca deixei comentário nenhum. Hoje, sei lá por qual motivo, resolvi escrever. Receio que o meu comentário seja feio, mas é o que mais sinceramente tenho vontade de fazer agora: POTAQUEOPARIU, Cecília! Vá ser boa assim na casa de chapéu!
Pronto. Agora é a parte em que eu respito fundo. Obrigada, querida, muito obrigada. =)
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Esperar ensina
Você é uma coisa de outro mundo
um beijo na alma
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Eu tenho um pavor
dor, sei lá,
dessa espera.
Porque se a gente
esperar, e nada.
E se a gente nada?
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