sexta-feira, novembro 16, 2007

In un Baleno (Num piscar de olhos).





Todo meu descanso é no azul, e só. As minhas pernas se estiram nos horizontes.
Meu andar é na entrelinha, céu-mar.
Por espanto, eu sabia: caminhar é só uma questão de me sentir mais à vontade com meus desequilíbrios.
Prossigo, mesmo sendo corda-bamba.
Vezenquando, uma pomba corta rasante os pensamentos.
Dos deslumbres: as idéias ficam suspensas... Em teima de vôo. Em deleite de mergulho.
Nem um suspiro me aquieta mesmo quando, de tão alto, inalo nuvens.
Tenho esse vento frio na altura do estômago,
coração apertando, o corpo trêmulo... Chuva guardada. Deve ser.
Tem coisas que se pensando, logo concretizam...
O tempo não tardou a se fechar nos olhos,
tanto pensamento de medo, trovejando.O corpo fazendo calafrios.
Dessas coisas que vêm junto com febres. Avisos e alertas.
Chorei logo um mar inteiro. Pra mudar essa paisagem de deserto.
E porque não sei ser aos pouquinhos.
O jeito foi pegar cajado e intimidades de Moisés com Deus, e caminhar mar adentro.
Pra espalmar minhas mãos de angústia no azul. Como quem se ampara, e evita quedas.
(Dos segredos: Deus gosta de engabelar o espaço: Amarra a linha do tempo nos dedos, faz ioiô do sol:
diiiiaaaaaa-noiiiiiteeeee, diiiiiaaaaa-noiiiiiteeeee...).
Aí era tarde, tinha caído já...essa coisa de espaço, só não sabia. Ainda não.Só com o tempo...
Sabendo de mim, ele sorriu. Encostou também sua destra no azul, que de angústia ele bem entende.
Dos fatos: Tínhamos tantas cores de sentimentos nas mãos, misturadas,
que rasuramos melancolicamente o azul. Pintamos um pôr-do-sol...
Das sacralidades.E são tantas.
Deus é menino. E tem todas as idades...Das lições.
Fechei os olhos em prece, só pra ascender por dentro essa noite.
Um mantra desenha o movimento dos ventos. E o cabelos cantam.
Sento entrenuances, ritualisticamente sansei. (como quando algo me revela).
O peito entregue, cede. E sinto o coração estremecer entre joelhos.
(Desses instantes em que os sentimentos nos tiram as firmezas, e a gente se dobra).
E me penso...(por que há dias que quero ser tão outra...logo passa).
Das manias: só sei me dissolver no instante, extática.
Sendo parte, construir possibilidades de me saber inteira.
Das posses: sou dona de todo um desajustamento, muitas instabilidades e de um querer-com-todo-ser.
Das aprendizagens, ou das possibilidades de.
:Querer-colocar-o-outro-na-medida-da-expectativa viola os direitos dos deslimites do ser.
E distancia o amor.
Das dificuldades: pelejar com minhas carências, e suas manias de grandezas.
O tãopouco parece demaisdaconta. E a pessoa aqui, padece. Mingua, por escolha.
Das constatações: essência tem dimensões, em número de 10 (é universo quântico), e intensidades.
De quase todas minhas impossiblidades: acorrentar um gesto, dissimular um querer, sufocar uma palavra,
pôr limites na entrega, viver raso e me fingir feliz.
Do que por si só, não adianta: O atrito de corpos.
Mesmo que tenham a ancestralidade guardada de quem re-descobre o fogo.
É preciso tão mais para me aquecer.
Das entregas: só conheço a que se inflama na fé. Daniel nas labaredas de fogo.
Na boca, o canto...glórias, aleluias, jubilos.
Ameninando medos, lamentações, dores e dissabores.
Só assim as feridas não me lesam. E as cicatrizes me desenham inteira.
Das seduções: as naturalidades.
Das esperas: a sua, porquê ando cansada...
Meu corpo quer se propagar no seu, inscrever meu movimento que é de permanências. Quero dispor da vida que ainda me resta pra te apreender, sem jamais te saber conhecido. Vem, que tenho um universo em mim a ser explorado... e têm me pedido tão pouco, que por vezes esqueço. Deita tua racionalidade nos meus braços, que a música em mim tem ritmo hindu. O tempo se conta no piscar dos olhos, na batida do coração. Vem, que meus olhos nos seus tem duração de presença. E fica. Pra minha poesia ganhar vida em teu corpo.
*
*
*
Cecília Braga


12 meses de.
(De quando as palavras não alcançam).
Dos desejos: todos soprados ao vento...
Das preces: todas que vocês quiserem tecer.
Amém.

 
'é tempo de me fazer, eu sei'.
Caio Fernando Abreu.


6 comentários:

Wilson Gustavo de Castro Lopes Oliveira - Professor Gustavo disse...

suas construções textuais estão cada vez mais lindas, dá até para ver o que há de divindade a passar por elas.

e Deus fica mais bonito por entre seus verbos...

...e presença.


agradecido em abraço, o meu orgulho infinito por você.

Anônimo disse...

te ler é a coisa mais linda que pode acontecer no dia. poesia viva.

meu coração aqui aos pulos.

se cuida amiga. :***

Anônimo disse...

Você é "parmanências". Belo, belo menina.
Um ótimo feriadão! Beijos!

Camila disse...

Isso aqui é um oásis!!!
Beijos mil

Anônimo disse...

Não tenho poeticado muito... mas tem muita coisa presa aqui dentro que preciso escrever... antes que eu exploda, sabe? Ainda mais que andei vendo fantasmas esses dias...

Visitar teu blog sempre me faz acalmar... parar um pouco a correria. Quieto, leio e releio numa espécie de cacuete ritualístico.

Não sei se porque voltei a jogar iô-iô recentemente ou porque ainda tem água salgada querendo sair dos meus olhos... mas AMEI o ue tu escreveste, menina-não-anjo.

beijos

saudade...

Unknown disse...

Caramba. Parabéns! o/
12 meses de coisas lindas, de um espaço que não se perde mais.
Uma candura.
beijo.

(também tô nessa corrida alucinada contra o tempo, e de blogues e livros tenho visto pouco. Mas pouquinho assim, eu por aqui, você por lá, nos vemos)

=]