quinta-feira, setembro 20, 2007

Amar-elo

Ela suspirou.
Queria que a palavra presa no peito deslizasse no papel,
feito sua mão na dele...
Porque seu corpo não conseguia tocar sozinho no êxtase.
E por mais que as vontades todas , premeditadamente, se ericem nas mãos, ela sabia.
Todo extremo abriga a possibilidade de escape e de entrega.
Foi com assombro e júbilo que sua mão encontrou a dele,
E fechou os olhos enquanto entrelaçavam-se os dedos, tecendo uma prece.
Depois abriu. Como quem resiste.
Mas ele foi lhe despindo as palavras até que ela atingisse sua in-civilização.
Agora ela só encontra abrigo no que lhe desestrutura.
Deixa então as mãos dele passear no seu corpo,
Remetendo-lhe ao principio de todas as coisas,
Era como se o universo se originasse ali, naquele encontro.
Assim se fez, pois.
Ela lhe arranhava coloridos neóns,
De tanta poeira intergaláctica abrigada nas suas unhas.
Só para depois enluvar as mãos de nuvens, percorrer as marcas,
E ter um céu todo seu, co-lo-ri-do.
Quando ela disse: - Deix'eu te aprender?

Já era dona de infinitas certezas, ele universo inteiro em expansão.
Mas ela só queria mesmo era ser única moça a habitar naquela estrela feita de grafite azul no lado esquerdo do peito dele.
Disse tudo assim, desexplicado e dumavez. Pois o que ela gostava era de ver a confusão acentuando a intensidade do olhar dele, nela. A tal ponto que sem dizer, consiga lhe interrogar:
- Estrela ?

Sim, sim. Ela tinha essa ansiedade infantil e tudo que queria era contar logo. E contou:

- A estrela que tá guardada aqui ó, nessa aquarela... que vou te desenhar aí, no peito.
É que pensei que podíamos começar pintando nossas paredes...
Só para colorinhecer tudo que nos sustenta e protege.

Tu deixa?

~
Cecília Braga

domingo, setembro 02, 2007

Ao som de ...

Fototropismo

Do desencontro aos seus anteriormentes era tanto remendo de palavras, que descarece de se ter olhar de moça prendada para diagnosticar que sendo tudo feito e posto de demasiados restos e sobras, jamais haveria de se configurar ali um cobertor.
Era um acobertador de vazios, e só.
Para atingir imobilidades se precipitou toda no instante. Sim. Dentro, ela era casa em chamas sem emergenciar saídas.
As coisas eram que lhe ocorriam por dentro numa urgência, um desespero de quase-vida.
Quantas despalavras bocejam o olhar no espreguiçar das retinas?
Todo silêncio petrificado na indiferença dos olhos, medida exata de quebra-mar.
O corpo produzindo mormaços. Cinzas e vermelhos esfumaçam o mundo.
Nos ventaminhos de dentro, silencionava.
Até chegar a esculpir o tempo na beira dos olhos.
Tudo in, brisareiando as vistas.
As pálpebras insandescem para atingir desmaios.
Lágrima pegou as redondezas do mundo, no prenúncio de horas de nascimentos, rompe-lhe a bolsa, chora paz.
Ela es-cor-re.
Arlívido.
Gotejo de azul no só-riso, tão ressecado de ausências.
Tem desgosto e sal na fenda dos lábios.
Tão dentro de si, bebeu o mar.
Se ele sentasse na beira de mim, diante de si, encanto de maré.
Arestou esse incômodo do que não é,
E em fúria de ressaca, fechou-lhe nas mãos.
Ofício de ostra: o estranho em mim, principia pérolas..
Tudo agora é gozo de terra abraçando semente,
Êxtase orgástico de quem aperta em si um outro , já tão seu, como se lhe gerasse.
Tentativa vã de entranhar instantes,
Pois eles me nascem.
~
Cecília Braga