É devaneio, sim.
Tuas mãos surpreendendo meus olhos.
Repousam sobre eles.
Meu olhar de lua cheia, tuas mãos de sol tecendo eclipse.
Passeio minhas mãos sobre as tuas num medo alegre.
Meu dedos envolvendo com força os teus. Aperto.Temo e tremo.
Os anéis de Saturno atravessados na garganta, embargando a voz.
Essa coisa sem pertencimento vagando no estômago feito Plutão.
Minhas mãos afastando de-va-gar as tuas, sem perder a órbita.
Afasto um a um os teus dedos escoando aurora.
Meu olhar perdido no traçado rósea da palma de tua mão, nele o alvor do dia.
É que sonhei com Primaveras.
Mas, aqui dentro um Outono calado.
Um amarelar das coisas antigas. Guardadas.
Fotografia de tempos atrás revelando sonhos realizados somente ali, no castanho dos olhos.
Tão claros, meu Deus.
Ouço ao longe o vento pastoreando nuvens...
Aqui terra seca de tanto verão tem sede.
Da vida e das estações só se alcança compreensão nos seus contrastes.
Shiva dança. Marca no passo o ritmo do tempo.
E no movimento das mãos abre e fecha ciclos.
Chove.
O sol em outro hemisfério. Inverna a alma.
Bem sei apreciar a beleza de cada estação.
Eu só queria caber no seu abraço mesmo quando
o tempo esquenta o corpo, mas só outro corpo aquece a alma.
Na Gênese que toda noite escura prenuncia eu só queria teu hálito fresco de manhã soprando vida nova em minhas narinas.
Da poesia que você trouxe para os meus dias declamo aqui meu último verso.
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Cecília Braga