sexta-feira, junho 18, 2010

Wish


A Espera tem o costume de sentar na beira do dia e fazer movimentos irriquietos com suas pernas longas. Ela vai arando, desacomodando as margens do tempo, até surgir na epiderme do dia um descampado. . Feito as pontas dos dedos descascados em  ansiedade. Esperar tem  mãos ásperas e lixivia os dias. Desertifica. E povoa. Um clamor profético rouco tem som de aragem: Moséis gagueja repetidamente o nome de Deus enquanto uma folha descobre o outono. E tomba.  Ela sabe, por isso, semeia. Mãos suadas cansam a semente até que o imperativo categórico nasça. Deus espalma sua destra na fronte do dia e faz dos dedos arado. Ela contempla.  Deus gosta de amanhar pensamentos a ponto de húmus. Esperança é quase esterco. E ela tem um campo de gerânios, ainda em grãos, entre os dedos. Pupilas em  lua-cheia e uma saudade densa... Feito teto da Capela Sistina... Feito o cinza anoitecendo o azul de um horizonte alaranjado...Feito a noite que cede aos apelos das estrelas. Feito Van Gogh colorindo Girassóis. As estrelas erguem a noite ao ponto de capela. Milhões de desejos acessos.Velas. Sopras?



Cecília Braga

3 comentários:

Maria Eduarda disse...

Eu entro aqui sempre, já li esse blog de cabo a rabo, mas nunca deixei comentário nenhum. Hoje, sei lá por qual motivo, resolvi escrever. Receio que o meu comentário seja feio, mas é o que mais sinceramente tenho vontade de fazer agora: POTAQUEOPARIU, Cecília! Vá ser boa assim na casa de chapéu!
Pronto. Agora é a parte em que eu respito fundo. Obrigada, querida, muito obrigada. =)

vanessa disse...

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Esperar ensina
Você é uma coisa de outro mundo

um beijo na alma


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Camila disse...

Eu tenho um pavor
dor, sei lá,
dessa espera.
Porque se a gente
esperar, e nada.
E se a gente nada?
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