
À caminho. Paisagem linda, verde-novo. Luz, tanta. E sombra pra vez em quando descansar. Ter os pés nus, eu gosto. Sentir a terra...Mas hoje quero subir a Montanha. Mochila: água, bolachas e sandália de padre. Só a alma é quem vai nua. Amo as montanhas. E seu simbolismo.
O poeta Hesíodo a chama de Úrea, do grego óresthai, elevar-se. É a "agradável habitação das Ninfas".
Símbolo de Transcendência. Lugar das Manifestações. Do sagrado - Hierofanias. De Deus - teofania. Lugar de Encontro. Ascensão.
Rumo ao céu. Quero é experimentá-lo. Fazê-lo realidade manifesta no caminho. No amor.
Pressa, ficou a uns passos atrás. Brisa e presença. Inquietação de pensamento, natureza silencia. Sabedoria.
Racionalizar a vida, quero não. Quero deixar brotar. Apesar de toda impossiblidade.
Vez em quando olho pra trás. Só pra colher os frutos. E celebrar o caminho. Cada passo meu fez o caminho que me trouxe até aqui. E me fiz e refiz neles. Paisagem foi eu que plantei.
Mesmo daqui, só vejo escolhas. Liberdade. Cicatrizes, tenho muitas. Elas me tornaram muito melhor. Como Cecília Meireles também aprendi com a primavera a me deixar cortar. E voltar sempre inteira.
Meus pés no topo. Olhos fixos no céu. Não é perda de tempo. É tempo de eternidade.
Ah, Clarice! Também sou secreta por natureza. O que há de mais sacro em mim, é lugar que chegam poucos. E tenho vivido histórias lindas de arrepiar.
Eu só queria saber tocar violão. Ver o sol se pôr em sol maior.
Companhia, só queria uma. Noite toda, e noite a dentro...sob a luz da lua.
Lugar melhor, não haveria. Sagradas montanhas.
No Monte Sinai, Moisés recebeu as Tábuas da Lei. Garizim é o cume sagrado nas montanhas de Efraim. Abraão subiu a montanha para dar seu único filho em sacrifício: Isaac. Elias obtém o milagre da chuva nos píncaros do monte Carmelo. O Sermão da Montanha, de uma transcendência sem igual. Jesus se transfigurou no alto da montanha. Nos montes das Oliveiras, ascendeu.
Hoje, só quero isso: ascender.
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Cecília Braga
Um comentário:
A VIDA RI
Ontem eu vi a vida sorri,
e vi seus dentes cor do dia,
e vi seus lábios cor do entardecer,
Lábios molhados como quem vai nascendo.
Ontem eu eu vi que a vida existe,
Que a morte não pode com um sorriso,
Por isso é séria e sem graça,
Eu nunca vi a morte sorri.
Hoje a vida continua a rir,
Como se estvivesse de bem com ela,
Como se estivesse se vendo refletida,
num espelho imenso se vendo nítida.
Ainda hoje a vida rir,
como se a felicidade não acabasse,
como se uma conquista tivesse galgado,
a de ser vida, em tudo metida.
Ainda agora escutei gargalhadas da vida,
E não se cança a vida em mostrar-se feliz,
E agora eu sei, está esclarecido,
A vida não tem planos prá partida.
Com um beijo
Naeno
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