quinta-feira, janeiro 04, 2007

L'equilibrista


Regando as flores. Limpando o jardim. Plantando lírios.

Lidar assim com o que é vivo e brota sempre verde e floresce. E Perece. Pede cuidados.

Coisa plástica e sem vida, carece de cuidar não. Tem que deixar é poeira tomar conta e mostrar a feiúra encoberta pelo verniz. Esse brilho-fosco. Falso. Quem vive a semear sabe, tem lugar que não nasce nada não. Endurecido e pedregoso, secou tanto por dentro que fora é concreto. Coisa da modernidade mesmo, entre asfalto e edifícios, tudo é cinza...mesmo com listras brancas-amarelas e cores diversas na fachada. Esconde não. É cinza. E sempre sempre descasca. E tanta concretude faz as pessoas perderem é a realidade. O que se pode pegar quase sempre não é. Antes fosse! Tanta parede separando tudo. E tanto condicionamento: quando não tem parede...Como pode não ter parede?!Logo alguém se empenha em construir. Na maioria das vezes não pede matéria que solidifica tudo não. É que a vontade de separar é tanta que materializa-se. E ninguém pode negar isso. O muro de Berlim caiu e continua lá. Complexo é. Ô, se é. E não basta semear não. Precisa é aprender ofício de Equilibrista. Tanto arranha-céu e tanta gente felina que arranha quando gente-semelhante encosta. Bom é ligar um ponto a outro. Fio dourado de raio de sol. As pernas é que vão bambas. A corda que é sensível a energia..também balança. Vontade só não basta. Precisa é concentração: deixar o medo falar e nem ouvir. Esse azul...o mundo é tão diferente para quem olha do alto. Dimensão é outra. Quem vai pensa ter asas. Fé é tanta que voa. Gostoso é saber que tem gente que vive também assim: carregando o universo inteirinho dentro do peito. Tem calor no abraço que dilata a alma. E quando olha nos olhos reluz estrelas. Só acredito em encontros físico-quânticos: gente assim; cada uma com um universo inteiro no peito, vibrando, girando, no espaço... no imprevisto se tocam. Esse encontro: Big Bang. Fênomeno raro. Ô, Se é. Mas que acontece! É que é preciso medir tudo em anos-luz. Isso exige mudanças. E olhar de amor capaz de compreender coisas que acontecem no céu. Porque naquele espaço que parece vazio nas noites escuras, entre uma estrela e outra, está repleto de galáxias.

*

*

*

Cecília Braga