sábado, dezembro 30, 2006

Apois.


Eu queria falar de insônias. De saudade desesperada: aquela que, chega gritando no meio da noite e te leva o sono e o sossego, num susto. E lá está você, com a cara pálida, a boca seca, o coração assustado dentro do peito: palpi-ta.palpi-ta.palpi-ta. Taquicardia. Alerta, depois da invasão. Tudo chega marchando. No imperativo.

Tenho o sono rasgado por esses rompantes, mas não quero ter a cara marcada pelo que dilacera a minha alma. E você sabe, seu moço, que não se pode andar assim tão exposto...

O que se é, quando exposto assim feito Jesus na Eucaristia ou no Ostensório, carece de tanta misericórdia dos homens como apetece ter nesta hora Jesus de nós. Ter o sagrado diante dos olhos é dançar como Daniel dentro da fornalha ardente, flutuando e cantando entre as labaredas de fogo. É preciso confundir e atordoar uns tantos: aqueles de espécie tão comum e beleza escassa que vivem de sugar, com canudo e com gosto, a vida ainda quente, líquida, vermelho-sangue.

E se o fogo só o é quando queima, se não o faz é por amor e renúncia. E nega-se a si mesmo. Ah, quem ama quer se dá por inteiro: o que se é e o que seria se assim não fosse. Tese, anti-tese e síntese. Quando o fogo toma tudo num abraço é para reduzir tudo às cinzas, e quando não o faz é por pura misericórdia! Essa noite, as entre-linhas tecem uma prece. Vês?!

Tudo queima...dentro e fora. E se não pereço, seu moço, é por pura misericórdia.

Mas o que eu queria falar mesmo é que sempre andei exposta... e quero aprender a colocar tudo em seu devido lugar: a alma dentro do corpo, sabe?! Chega desse jeito exagerado de ser...eu quero caber toda dentro de mim. Ai, Deus meu. Eu tenho tentado. Mas fica sempre uma perna, um braço, uma metade minha do lado de fora...E se você me encontrar, em qualquer esquina dessa vida, assim...Encontro.

É que não sou pequena. Nem grande. Mas minha alma não é tamanho médio. E não cabe! Não adianta, nem elevando a minha alma a -100.000.000.000 não vai caber aqui!

Rá! E quando foi que me tornei reducionista?!Quero é que ela se expanda, vou elevá-la ao infinito é lá que ela tem que caber...certinha...até a beira. Mas, infinito não tem beira não!Estou pelejando aqui...mas sempre tem uma borda emoldurando o quadro: essa imagem da minha alma cabendo toda no infinito. Essa dificuldade nossa de cada dia de ver além de onde a vista alcança...

É atrás da linha do horizonte que sol se esconde. Lá nasce. Às vezes esqueço que ele continua ali...só que dentro da boca da noite. E quando ela sorrir vai raiar o dia. Graças a Deus!


Há que se abrir um parênteses, bem aqui, antes que seja tarde: (Há quem pense que avesso é igual a inverso. E que misericórdia é sinônimo de pena. Tisc. Tisc. Não é!).


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Cecília Braga

Um comentário:

Anônimo disse...

Tisc. Tisc. Não é!

Cecília e seu jeito mt particular de escrever! Acho mt legal esse jeito!

Continue!

Bjs, moça!