segunda-feira, janeiro 29, 2007

Tecer é tarefa par. Eu explico. No tear, urdidura e trama se entrelaçam. Assim como quem ama deseja enlaçar não só as mãos, mas as linhas da vida.
Tem gente que se esticaaaaaaaaaa, se dilata inteira no calor do sentimento. Para atingir o tom: afina.
Na urdidura os fios tensos e paralelos, dispostos no tear. Esperando o perpassar trans-versal dos fios da trama. Maleáveis. Tramar é escolher. Tecer a vida.
Penso em quem se estica até os limites da resistência. E já nem sei se é força ou fraqueza. Até onde vai a minha força sem que minha fraqueza venha.... a partir? ou partir? Um pergunta me diz de sua nacionalidade e a outra de sua missão. Sim, missão! Porque há algo de sagrado no romper. E tudo que é sagrado tem força. E já nem sei se a força só existe na negação da fraqueza ou na sua aceitação. É, eu sei... Nem sempre uma coisa exclui a outra.
Tudo isso porque eu já não sei se é sinal de força ou de fraqueza quem sabe dar as mãos mas não sabe entrelaçar as linhas da vida... E continua segurando a mão mesmo quando já não caminham mais de mãos dadas. Explico de novo....
Ím-par.
Ele nada disse. Mas sempre deu a entender....E foi tanta conversa antecedendo o ato... Quando ele segurou em suas mãos, olhou em seus olhos e beijou seus lábios...Ela acreditou no que ele dizia, assim sem nada dizer. E pela intensidade do que ela sentia as coisas tinham outro nome. E bem sabia que o nome dava o significado.
E agora só havia esse silêncio....cheio de palavras vazias. Coisa de quem seguiu o seu próprio caminho e tem medo. E quer manter aquela mão ali...disponível. Mas hoje ela pensa que esse medo é todo dela. Advinhar o nome que cada um dá as coisas é charlatanismo. E essa espera pela palavra salvadora é cinza e fria. Corta. Ela tem medo de perguntar:
- Como você me chama?!
- E se me chama...porque não consigo escutar?!
Ele continua dando a entender coisas que ela não entende. Ela gostaria de ter certeza se a certeza não tivesse nenhuma dúvida.
Confusão é tudo que resta quando tentamos manter todas as possibilidades...sem escolher uma. É que ele tem tanto a fazer....coisas dele sabe, antes de qualquer escolha. No fundo ela sabe que ele na sua não-escolha, já escolheu. Mas é tão fundo e tão escuro que ela ainda não consegue ver. É noite, sabe.
Penso no padroeiro dos cozinheiros... Será que ela é devota de São Lourenço e pensa em viver o exemplo de sua santidade e martírio?! E vai se deixar martirizar assim por essa falta de amor próprio que queima e arde até que possa dizer como São Lourenço: - Vire-me, que já estou bem assado desse lado!
Ah, São Lourenço..... Valei-me que não!!!!
É que o apetite do Amor tem sua urgência e pede a carne crua.
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Cecília Braga
(Sobre o que você me pediu para escrever...mas é tudo tão teu, que não sei se soube traduzir).

2 comentários:

Camila disse...

Muito legal! Parabéns, aquariana!
Beijinhos

Anônimo disse...

.. que já estou bem assado de todos os lados.

mas nao sei o que, ainda presa ali. talvez na fogueira da vaidade.
ou nao.

eh gostar por dois. doente.